Mercado de Florianópolis
Projeto premiado com menção honrosa em concurso nacional de projetos de arquitetura, novembro 2013
equipe:
arquitetos: Alexandre Brasil e João Diniz
colaboradores: Rafael Gil Santos, arquiteto e Frederico Grimaldi, engenheiro civil
CONCURSO DE COBERTURA DO VÃO CENTRAL DO MERCADO
A proposta aqui apresentada fundamenta-se no profundo respeito ao monumento, no entendimento
de que a intervenção deve evitar a competição com o bem tombado em suas especificidades formais,
construtivas e de uso, assegurando a maior importância hierárquica do edifício existente na sua escala,
na sua articulação com o espaço urbano adjacente, e na sua relevância como testemunha de diversos
tempos da construção de nossa história.
Assim sendo, a intervenção se baseia:
- na inserção de uma estrutura totalmente independente, que não toca o edifício, e que se apoia no
solo distante das fundações existentes, assegurando a completa reversibilidade das intervenções e
visando a integral preservação do bem tombado para as gerações futuras;
- na proposição de uma cobertura retrátil, de funcionamento simples, e que devido ao seu sistema
de abertura permite a total abertura ou o total fechamento do vão central do mercado em múltiplas
combinações;
- na proposição de uma estrutura esbelta, leve, que possa permitir o máximo de transparência e o
mínimo de interferência visual no conjunto do edifício tombado;
- na proposição de um microclima novo e específico [1] que se integra ao céu de Florianópolis onde
a movimentação dos trechos da cobertura se relaciona com a dinâmica das nuvens deixando que as
brisas externas ventilem o espaço do pátio [2].
INTERVENÇÃO
O Mercado Público Municipal de Florianópolis é construção significativa no patrimônio construído da
cidade o que é confirmado através de decretos de tombamento estando também inserido na Área de
Preservação Cultural do centro urbano. Sua construção se deu em duas etapas: em 1898 a ala norte
e em 1928 a sul, que são alas gêmeas de volumetria semelhante mas que receberam diferentemente
características de cada época variando os adornos ecléticos da primeira etapa ao geometrismo art deco
da segunda etapa.
A atual proposta de cobertura do vão central do Mercado trará a presença da nossa época contemporânea
a este edifício histórico ao valorizar e potencializar, através da nova intervenção construída, ainda
mais este pátio interno como área de múltiplos usos incrementando seu potencial de convergência
social. Mas ao mesmo tempo garantindo, conforme recomendações municipais, o caráter transitório, a
reversibilidade, a transparência, o uso retrátil, a durabilidade e a total integração ao edifício tombado.
Este aspecto de atualidade da intervenção fica explicito no caráter e nos materiais da estrutura e da
cobertura desta proposta, o metal e o ETFE, que procuram ser discretos, não competindo com a imagem
do mercado, mas se afirmando numa nova harmonia através de sua flexibilidade, leveza e transparência.
Desta forma o projeto impacta minimamente o edifício existente ao propor a cobertura horizontal na
altura de 11,4 metros que é ao mesmo tempo a linha das cumeeiras dos dois pavilhões paralelos do
mercado e da cimalha e platibanda superior das pórticos/pontes transversais de acesso ao pátio central
[3], originalmente conhecido como rua Francisco Tolentino.
Desta forma este plano horizontal elevado permite total visão longitudinal destas fachadas altas com suas torres em pares, que são as portas de entrada para o vão central da construção. Paralelamente esta cobertura promove ventilação transversal do espaço permitindo também a visão do céu sobre os telhados dos dois pavilhões das alas norte e sul do mercado, trazendo a percepção da natureza e do clima local a este espaço agora protegido.
TÉCNICA E CONSTRUÇÃO
A plataforma superior da cobertura com área de 19,20 x 60,00 metros foi dividida em cinco trechos de
12,00 x 19,20 metros e cada um destes trechos se divide ainda em dois módulos móveis e rolantes de
9,6 x 12 metros. O apoio deste conjunto se faz através de dois conjuntos paralelos e longitudinais de
seis pilares metálicos tubulares, a cada lado, com diâmetro de 30,00 cm, locados juntos ao meio fio do
passeio de 1,20 metros, proposto pelo recente projeto de restauro do Mercado, ao longo das fachadas
internas dos pavilhões. Esta distancia entre estes apoios da nova estrutura e a construção existente
facilita os serviços de execução das fundações destes pilares. Assim a nova estrutura não toca em
nenhum ponto a construção existente.
No topo destes pilares aparecem 6 vigas-calhas metálicas em “V”, formato de boa estabilidade estrutural,
com altura de 60 cm que os ligam transversalmente e que ainda balanceiam por cima dos dois pavilhões
paralelos permitindo a rolagem de cada um dos 12 trechos da cobertura de 9,6 x 12,00 metros. Estas
vigas calhas transversais recolhem as aguas pluviais, provenientes de cada um dos trechos da cobertura,
que são conduzidas ao solo através de cada um dos pilares metálicos, e também contêm os trilhos para
os roletes que permitem a movimentação dos trechos da cobertura através de acionamento por motor
eletromecânico. Estes trechos moveis por sua vez são também compostos por vigas calhas metálicas
também em “V” e menores moduladas em quadros de 2.40 x 2,40 metros e com altura de 30 cm que
também conduzem as águas pluviais até as vigas calhas maiores. Estes quadros são fechados por
material transparente leve que promove a entrada de luz natural e a total visão do céu.
Desta forma temos um sistema retrátil com 10 quadros móveis que permite múltiplas combinações
[4] de abertura ou fechamento através de motores individuais, um para cada quadro, e acionados
remotamente. Estes motores são semelhantes aos usados em portões de correr através de trilhos-guias
dentados que têm se mostrado na prática duráveis, eficientes, econômicos e de fácil manutenção. Estas
possibilidades de abertura podem atender a diferentes necessidades e eventos no espaço, variando de
total abertura ao total fechamento, e esta modificação pode se dar em poucos instantes.
Este conjunto de seis pórticos paralelos com vigas balanceadas é contraventado através de tubos
rígidos diagonais de 7,5 cm em “X” verticais que ligam e estabilizam os pilares e também através de
duas passarelas metálicas de manutenção presentes no inicio da parte em balanço das vigas principais.
Por estas passarelas, e também sobre as vigas-calhas maiores, podem caminhar os encarregados pela
manutenção da estrutura, dos trechos de cobertura e dos sistemas mecânicos.
Todas estas soluções garantem o caráter provisório e reversível desta intervenção, que pode ser
desmontada e removida, caso necessário, mas que por sua vez é construída com materiais duráveis, de
fácil conservação, que resistem às intempéries e que promovem o mínimo impacto e protagonismo no
valioso espaço do Mercado Publico de Florianópolis.